domingo, 29 de setembro de 2013

O ensaio

Mais tarde, contando pras amigas, ela não saberia explicar o que foi que aconteceu. Ou melhor: porque é que tinha acontecido.

Era um ensaio fotográfico como uma dezena de outros que tinha sido contratada pra fazer. A agente avisou que haveria nudez. Nada explícito, nada deliberadamente sexual, um editorial de moda sobre bolsas.
Normalmente ela chegava no estúdio, passava pela maquiagem, pelos cabeleireiros, vestia-se ou despia-se conforme o necessário pro trabalho e o fotógrafo ia indicando o que ela deveria fazer enquanto era fotografada.
Dessa vez não.

O fotógrafo, um cara de uns trinta e tantos anos, foi super atencioso: explicou como seria, mostrou referências do que  pretendia, pediu opinião, debateu, mostrou as bolsas e só depois encaminhou-a pro cabelo e pra maquiagem.
Ele mesmo fotometrou, dispôs no estúdio tudo de que precisaria e mandou a equipe pra fora, esperar caso fosse necessária alguma assistência.
A partir daí foi como de praxe. Ele ia indicando as poses, ia dirigindo a situação, tudo muito profissionalmente. Ela é que sentiu-se estranha.
De uma hora pra outra, estar ali nua sob as luzes, diante do clac-clac constante daquela máquina, o cheiro de couro das bolsas novíssimas e caríssimas e a voz daquele homem impassível, sério e impessoal, dizendo o que deveria ou não fazer, foi deixando-a num certo estado de torpôr, foi fazendo com que se sentisse – de certa forma – excessivamente exposta, fragilizada e ao mesmo tempo, divina.
Sentiu-se umedecer.

Era absolutamente constrangedor. Totalmente anti profissional. Aquilo nunca tinha acontecido antes e parecia mentira que pudesse estar acontecendo agora.
Ela simplesmente não conseguia entender e não conseguia se controlar. Começou a repetir pra si mesma, em pensamento, que aquilo era inapropriado, começou a tentar pensar em outras coisas, no aluguel, nas compras de mercado, na cara de bulldog da sua agente lhe dizendo que nunca mais conseguiria outro trabalho depois daquele papelão, mas nada adiantava. Quanto mais tentava desviar a atenção da peça que seu corpo lhe pregava, mais excitada ficava com toda a situação, com a deselegância daquilo, com o quanto era constrangedor.
E se ele notasse? E se o fotografo percebesse que ela estava naquela condição, o que pensaria? Acharia que ela era uma descontrolada, uma amadora. Riria e ironizaria sua infantilidade sua falta de profissionalismo, civilidade e senso do ridículo. Ele comentaria com o resto da equipe, quando ela fosse embora, comentaria com outros fotógrafos, com os amigos no bar. Sua carreira estava arruinada. Teria de se virar como vendedora de loja ou promotora de eventos pra pagar o aluguel e o resto da faculdade. Em pouco tempo todos no meio saberiam que ela tinha ficado excitada no estúdio, no meio de um ensaio de nu. No meio de uma sessão de fotos pra um editorial de bolsas, meu deus!
De repente, vergonha das vergonhas, sentiu-se escorrer.

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Vibrador ecologicamente correto transforma prazer em terror em Maringá

Essa matéria é quase um conto. Tão boa que precisei postar:

A matéria original foi publicada no O Diário



Um homem solitário. Um filme pornô. E uma abobrinha. Esses três itens, aparentemente sem nenhuma, ou pouca, conexão, se tornaram personagens de uma história inusitada em Maringá nesta semana. E que acabou em uma cirurgia de emergência.

O homem de 63 anos estava em casa, alta madrugada de uma terça-feira sem graça, e decidiu assistir a um filme pornográfico. Entusiasmado com as performances dos atores, resolveu inserir um pouco mais de prazer em sua vida. Na falta de um consolo, revirou a despensa e reparou que, nas formas inocentes de uma abobrinha, havia um instrumento erótico em potencial.
Voltou à sala, o sexo correndo solto no DVD. Excitado, sacou da fruta (sim, é uma fruta) e introduziu seu vibrador ecologicamente correto no ânus. Triste destino o do vegetal, que escapou da panela para cair diretamente no fogo de uma paixão proibida.
O prazer se transforma em medo. Desconhecendo o poder de sucção de seu próprio reto, o homem se vê às voltas com uma abobrinha entalada e que não quer mais sair. Desesperado, tenta arrancar a fruta cilíndrica a todo custo - e quebra a dita ao meio. Um pedaço de tamanho considerável teimosamente se aloja no âmago do homem, cuja excitação inicial deu lugar a um terror incontrolável.

Às favas com a privacidade. Para salvar o próprio traseiro, é preciso colocá-lo na reta. Encaminha-se ao hospital, diz que há um objeto estranho em seu ânus. Enrola para dizer o que é e como foi parar lá dentro. Os médicos alertam que qualquer tipo de intervenção tem risco redobrado se eles não souberem exatamente o que aconteceu, e como. Pedem que o homem se acalme e sente para contar detalhadamente seu caso. Ele permanece em pé e se rende às argumentações dos especialistas. Conta tudo, afogueadamente, mas falando baixinho.

É um caso sério. Guias são preenchidas, exames são solicitados. Um raio-x descortina o renitente pedaço de abobrinha no interior do homem, a prova de um impossível caso de amor entre dois espécimes de reinos distintos. Aturdidos, os médicos decidem que é um caso de cirurgia. E de urgência.
O procedimento é realizado, o SUS - esse intituto tão criticado e vilipendiado - custeia a devolução da dignidade ao maringaense incauto. Aquele pedaço de mau caminho foi definitivamente retirado da vida dele.

terça-feira, 10 de setembro de 2013

Vingança


Era a noite especial de dois anos de namoro. Ela tinha gasto uma quantidade considerável de dinheiro num conjunto de lingerie de renda preta com detalhes bordados em vermelho. Uma coisa meio puxada pro burlesco. Sua intenção era de que, no final da noite, quando voltassem da balada pra casa, fazer-lhe uma surpresa. Iam comemorar. Seria uma noite memorável.

Na fila pra entrar na casa noturna os dois encontraram por acaso uma antiga amiga dele dos tempos de escola e começaram a conversar.
Podia ser paranoia, podia ser ciúmes infundados mas ela teve a nítida sensação de que a garota estava flertando com seu namorado e ele com ela. Sutilmente, mas estava.
Então ela fez aquelas coisas que costuma-se normalmente fazer (quase que instintivamente): enlaçou-lhe o pescoço com os braços, beijou-lhe de leve as têmporas, introduziu na conversa assuntos e piadas herméticas que só o casal sabia do que se tratava, mas nada surtiu muito efeito.
Quando finalmente entraram na festa um rapaz meio feio, desengonçado mas estiloso encarou-a sem que seu namorado notasse. Primeiro ela evitou o olhar. Depois olhou de volta.
Lá pela segunda ou terceira cerveja a amiga da fila tornou a aparecer oferecendo pro dois um teco. A namorada não queria e não queria que seu namorado quisesse. Mas ele quis.
Isso fê-la sentir-se extremamente ultraja. Depois de dois anos, sabia muito bem que quando ele cheirava, brochava fatalmente.
Enquanto o namorado foi no banheiro mandar o teco, o rapaz feioso tornou a aparecer com seu manjadíssimo olhar lascivo. Ela correspondeu plenamente.
Mais tarde enquanto fumava sozinha lá fora, o rapaz abordou-a e trocaram meia-dúzia de palavras.
Já quase no final da festa - o namorado mastigando a própria língua e tropeçando nos próprios tornozelos e nos tornozelos de metade da pista de dança -  sem que ele pudesse perceber ela deu meia-volta, deixou-se ocultar pela multidão, agarrou pelo braço o feioso que passava por ali e puxou-o rapidamente até o banheiro sem que o segurança visse. Uma vez lá dentro, beijou-lhe a boca com um pouco de asco mas enfiou-lhe a língua até quase as amigdalas. O feioso, eufórico, encheu a mão em seus peitos por cima do vestido e ela abriu-lhe o zíper da calça sacando o pau absurdamente duro pra fora, num golpe só. 
Mais cheia de raiva do que de desejo, empurrou o garoto até a parede oposta e, com a mão esquerda em seu tórax, abaixou-se e engoliu sua pica enquanto massageava-lhe o saco. O feio era cheiroso e a raiva deu lugar ao desejo. Só um pouco, mas deu. Chupou o rapaz euforicamente, botando em prática tudo o que tinha ensaiado mentalmente ao longo da semana, enquanto preparava a surpresa pro namorado. Tinha visto uns filmes na internet tentando aprender uns truques novos e usou-os todos. Sorvia daquele cacete com ânimo e com pressa comprimindo-lhe com uma das mãos, trazendo-a pra cima e pra baixo em sincronia com os lábios. Lambia-lhe do saco até a cabeça e tornava a engolir. O feioso desengonçado gemia como quem soluça e agarrou-lhe a cabeça com as duas mãos empurrando seu pau mais profundamente na boca da menina. Ela não gostou daquilo. Na verdade ficou tentada a cessar, mas continuou. Deixou que ele fizesse o que quisesse, pelo tempo que lhe aprouvesse. Não foi muito.
Logo o rapaz levantou-a pelos braços de forma surpreendentemente carinhosa, sentou-a sobre a pia arrancando-lhe a calcinha de renda preta e deitou-lhe a boca entre as pernas. Ele passeou lentamente a língua molhada de saliva em torno de seu clitóris e ao longo da fenda, mordiscou-lhe a parte inferior do monte de vênus e enfiou a língua toda dentro de sua boceta trazendo pra fora o suco viscoso e bebendo dela como se fosse um cantil, sugando delicadamente suas carnes. Seus grandes lábios roçavam nos dentes dele fazendo cócegas e quando ela sentiu que estava bem molhada, desceu da pia e pôs-se de costas pro rapaz, toda voluptuosa, o vestido erguido até a cintura, as mãos apoiadas no tanque de descarga da privada, oferecendo-lhe o rabo.
O rapaz ignorou o cu e foi pra dentro da boceta. Penetrou-a forte, duro, muito duro. Ele não tinha o maior dos paus e – a bem da verdade – era até menor do que o de seu namorado, mas ela podia senti-lo todo lá dentro, abrindo-a, cavando a entrada com força e um ritmo que fê-la ficar zonza por alguns instantes. 
Só por alguns instantes porque o feioso gozou rápido. E gozou muito. Ela sentia os jatos que o rapaz lhe depositava lá no fundo e ouviu seu gemido mesclado à música alta.

Ela tirou-o de dentro, abaixou o vestido, vestiu a calcinha e saiu rapidamente do banheiro.
Lá fora o namorado já a procurava apreensivo. Justificou-se dizendo que tinha passado mal e pediu pra que fossem pra casa, fazendo gênero de coitadinha. Foram.
Começaram a se agarrar já no elevador. Entraram em casa trôpegos, aos beijos, o gosto amargo de padê na língua dele, despiram-se na sala e caíram na cama, ele por cima, cheio de fogo, cheio de pó e completamente desajeitado. Enquanto ele a beijava no pescoço ela massageava-lhe o pau que, como era esperado, não reagiu minimamente.
Então ela pediu docemente que ele a chupasse. Como já sabia que não tinha a menor condição de comê-la, o namorado assentiu prontamente e meteu-se no meio de suas pernas, chupando-a com o maior dos empenhos, ciente de que teria de compensa-la pela falência do pau.
Ele bebeu. Bebeu dela com todo o fôlego e devoção que tinha.

Deitada, satisfeita, e sentindo-se vingada ela deixou que lhe chupasse sabendo que o que ele bebia não era sua excitação, mas o gozo que o rapaz feio e estiloso tinha deixado ali.